Coluna Conversa de Pista: Mudar a direção para andar mais

A Coluna Conversa de Pista é escrita pelo jornalista especializado Wagner Gonzalez
A Coluna Conversa de Pista é escrita pelo jornalista especializado Wagner Gonzalez

Começa hoje a segunda e última fase de testes de pré-temporada de F-1 de 2020, mas um recurso criado pela Mercedes para alterar o sistema de direção parece ter feito seus adversários perderem o rumo antes mesmo do início do Campeonato Mundial de F-1, dia 15 de março, na Austrália. Ao deslocar longitudinalmente a posição do volante do W11, carro que Lewis Hamilton e Valtteri Bottas pilotarão este ano, muda-se o alinhamento das rodas dianteiras; esse recurso permitiu ao time alemão capitalizar os ganhos gerados por uma solução que reduz o desgaste dos pneus e melhora a velocidade nas retas e aumenta a aderência nas curvas. A maior novidade da categoria nos últimos tempos terá vida curta: já foi banida no regulamento técnico que entra em vigor em 2021. Mais, somente deixará de ser a referência deste ano se as demais nove equipes lograrem aparecer com alguma solução tão ou mais impactante.

Equipes adversárias podem virar coadjuvantes no Mundial de F-1 deste ano (Mercedes)

O sistema de eixo duplo de esterçamento (tradução livre de “Double Axis Steering”, ou simplesmente DAS) basicamente altera o valores de “toe in”e “toe out”, referência técnica que identifica a diferença da direção das rodas de um mesmo eixo. Quando paralelas elas melhoram a velocidade na reta, mas prejudicam o rendimento nas curvas e vice-versa; encontrar a regulagem ideal para um circuito é a resposta que será avaliada com o menor desgaste de pneus e melhor desempenho por volta.

Essa diferença decorre do fato que a roda interna de um automóvel descreve um raio menor que a externa, Regulagens equivocadas criam problemas e desgastam os pneus e aumentam  consumo de combustível. Uma forma de visualizar melhor os problemas gerados por um alinhamento errado é lembrar do que acontece quando você pega um carrinho de supermercado que exige maior força para ser empurrado, aqueles que geralmente têm uma roda que muda de direção e outra que segue na direção que você deseja.

Ao alterar o alinhamento das rodas dianteiras com o carro em movimento a solução da Mercedes gera ganhos em vários aspectos e pode-se enxergar que a combinação dos ganhos gerados pelo menor desgaste dos pneus e a maior velocidade nas retas vai além. Alterar o alinhamento nas curvas afeta para melhor o ângulo de derivação (o coeficiente que identifica o momento em que o pneu deixa de flexionar e passa a direcionar o automóvel na direção desejada pelo piloto) enquanto ao manter as rodas paralelas nas retas diminui o arrasto aerodinâmico. Trocando em miúdos:  o motor trabalha sob menor carga (portanto tem menor desgaste) e consome menos combustível (pode largar com menor carga de gasolina) e poderá fazer menos paradas para trocas de pneus.

Chaparral 2J, equipado com extrator de ar traseiro, lançou moda que foi proibida na F-1 (Chaparral Classics)

Até agora pouco se sabe dos mecanismos que fazem o DAS funcionar e é fato consumado que Hamilton e Bottas só vão explorar todo o potencial do sistema no GP da Austrália. Fazer isso nos testes de Barcelona seria insuflar os ânimos da concorrência e criar uma situação embaraçosa para todos, por isso o inglês e o finlandês certamente foram instruídos para disfarçar o rendimento e acelerar a fundo apenas em alguns trechos. A avaliação dos resultados, no entanto, pode ser dissecada pelos dados de cronometragem que as equipes recebem ao final de cada treino: investigando os melhores tempos em cada trecho do circuito é possível identificar uma volta ideal. Tal recurso é uma tática velha conhecida e já foi usado em situações famosas como o duplo chassi do Lotus 88 e no Brabham BT46B equipado com ventilador traseiro, ideia, por sinal, copiada do Chaparral 2J.

Read Previous

Chevrolet revela detalhes de design do Novo SUV Tracker

Read Next

Carros da Aptiv completam 100 mil viagens de robôs taxis