Confira a manutenção dos motores três cilindros com foco nas velas e bobinas de ignição. Melhor na eficiência energética, o conjunto soma um menor número de componentes internos, que diminui a perda por atrito e deixa o custo de manutenção mais baixo
Texto: Carolina Vilanova
Informações técnicas e imagens: NGK do Brasil
Com mais eficiência por conta de menos atrito, os motores construídos com três cilindros estão sendo amplamente utilizados na manufatura automotiva brasileira, tanto na versão aspirada quanto equipado com turbocompressor.
O chamado downsizing de motor, quando o tamanho é diminuído sem prejudicar a performance, promove vantagens, principalmente, pelo número de peças mais reduzido. “Quando você retira um cilindro de um motor, diminui as perdas por atrito e por consequência acaba melhorando a eficiência energética desse motor”, diz Hiromori Mori, consultor de Assistência Técnica da NGK do Brasil.
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Além disso, o custo de manutenção para o motorista fica menor, já que com apenas três cilindros temos menos componentes, diminui o número de pistões, anéis, bielas, válvulas etc.
Com o downsizing consegue-se trabalhar melhor a eficiência térmica, que influi diretamente na emissão de poluentes. “Hoje nós temos motores muito modernos que estão atendendo normas de emissões cada vez mais rígidas, por conta de mais tecnologia nos veículos”, comenta.
A evolução na produção de veículos e motores foi além da redução de número de cilindros, incorpondo sistemas de ignição mais sofisticados, com mais energia; e os motores turbo com injeção direta de combustível. “E para o mecânico, o que mudou? Basicamente mudou a forma como vai diagnosticar um veículo hoje na oficina”, analisa Hiromori.
Sistema de ignição
As velas e as bobinas de ignição foram diretamente afetadas com a chegada do downsizing e merecem atenção. “Antigamente, quando você tinha uma falha no sistema de ignição num carro com motor quatro cilindros, falhava um cilindro e o carro ainda funcionava, não era recomendável, mas era possível. Porém, toda vez que eu tenho uma falha no sistema de ignição, o combustível injetado no motor não queima dentro do cilindro e aquela mistura ar combustível sai pelo catalisador, que é uma peça que trabalha aquecida e poderia entrar em combustão, provocando danos nesse sistema do veículo”.
Ele explica que hoje, nos motores três cilindros, quando você tem uma falha de ignição, você compromete muito o funcionamento do conjunto com muito mais dano. “O cuidado com a manutenção preventiva nos motores três cilindros é muito maior que no motor quatro cilindros”, diz.
Em relação a preventiva, Hiromori esclarece que cada motor trabalha com uma tecnologia diferente. Então, quem pode orientar da melhor forma de proceder a manutenção é o projetista do motor do veículo, ou seja. “O manual traz todo plano de manutenção que a montadora preconizou para aquele veículo específico”.
Manutenção mais acessível
O custo de manutenção dos motores três cilindros é mais baixo em relação ao sistema de ignição porque se troca-se somente três velas e três bobinas, se for necessário. “Esses motores são otimizados e o rendimento é melhor e mais econômico. Como não estamos mais usando cabos de velas, é mais uma economia. Quando o veículo possui cabo, o que nós recomendamos é que a troca seja feita a cada três anos ou 60 mil km preventivamente”, aborda.
Limpeza das velas
Hiromori diz que a limpeza das velas merece orientação. “Na linha de produção das velas, aquela parte metálica que nós chamamos de castelo metálico, onde vai a rosca da vela, recebe um banho para proteger o aço e evitar que a rosca da vela oxide. Quando o mecânico faz uma limpeza, normalmente uma escova de aço ou um jato de areia, acaba removendo o banho de proteção. Com o metal desprotegido, acaba oxidando dentro do cabeçote”, alerta o técnico.
O outro problema é que ao desgastar a vela é provocado um arredondamento dos eletrodos. Segundo Hiromori, se o mecânico precisar realmente limpar a vela, usar uma escova de dente com cerdas de plástico e um descarbonizante.
“Hoje, porém, os sistemas de ignição estão tão modernos, tão resistentes, tão robustos que você já não precisa mais ficar tirando velas de ignição para limpar. Isso porque como o sistema de injeção eletrônica é muito mais preciso que um carburador, eu já não tenho mais aqueles problemas constantes de carbonização, então não preciso mais fazer essa operação, que também não compensa financeiramente para a oficina”, explica.
Velas encharcadas
O técnico da NGK conta que existem dois tipos de encharcamento, por combustível (gasolina/etanol) e por óleo lubrificante. O encharcamento por combustível ocorre quando há um problema de injeção. Por exemplo, uma pressão de linha muito alta, um injetor que não está com boa estanqueidade, acaba molhando a vela, ou seja, provocando o encharcamento. Por ser um componente elétrico, a vela está isolada, e quando é molhada, fecha um curto. “Então não acontece a centelha para queimar a mistura ar e combustível.
Quando espera e depois dá a partida, o veículo pega normalmente, conforme a vela aquece queima toda aqueles resíduos de combustível que estavam na ponta da vela, secando, volta a funcionar.
“O maior problema é quando você tem infiltração de óleo dentro da câmara de combustão, problemas de anéis, guias e retentores de válvula, provocando vazamento de óleo, que ingressa dentro da câmara de combustão, e não evapora. Nesse caso, você tem que fazer a troca das velas ou a limpeza com escova com cerdas de plástico e um descarbonizante”, explica.
Quanto e como trocar as velas
Se o carro for equipado com injeção eletrônica, a luz de anomalia acesa no painel de instrumentos do veículo pode indicar problemas nas velas. Já nos veículos mais antigos, terá falhas de funcionamento, uma engasgada, dificuldade para pegar de manhã, mais consumo de combustível etc.
Para fazer uma manutenção de qualidade nas velas e bobinas, o mecânico precisa estar munido de capacidade técnica e ferramentas adequadas. “Com o downsizing, o diâmetro do cilindro diminuiu e, por consequência, o espaço para colocar a vela de ignição também. Assim, a velas começaram a ter diâmetro cada vez mais fino, com o comprimento maior, já que normalmente está centralizada dentro da câmara”, analisa Hiromori.
Uma vela de comprimento maior, vai ter o diâmetro de rosca mais reduzido, com torque pré-determinado. Por isso, a necessidade de utilizar um torquímetro é essencial, para evitar romper uma vela de ignição ou falhas de combustão.
Comum hoje em dia
Hiromori conta que no mercado nacional, com a baixa qualidade do combustível é comum encontrar cada vez mais velas com contaminação proveniente de óxido de ferro, ingrediente adicionado na gasolina de má qualidade para aumentar a octanagem da gasolina. Então, acaba contaminando a vela. Se o item for retirado, pode-se notar uma coloração avermelhada tanto nos eletrodos quanto no isolador.
Nesse caso, não adianta o mecânico tentar limpar, a vela deve ser substituída. E o cliente alertado do problema da qualidade do combustível que está usando. Além do mais, motores que têm a vela de eletrodo direcional, quando a vela é removida, não pode ser colocada novamente. Deve ser trocada obrigatoriamente.
Carol Vilanova, editora da Revista e Portal Oficina News, é jornalista (Mtb 26.048) e trabalha desde de 1996 na imprensa editorial automotiva. Em 2003 iniciou sua participação no mercado da reparação e reposição automotiva, inclusive como editora da Revista o Mecânico por 12 anos. No ano de 2014, idealizou o Portal Oficina News, que em 2016 teve sua versão impressa publicada, a Revista Oficina News, sob a chancela da Editora Ita & Caiana. Sob sua responsabilidade editorial, publica também a Revista Frete Urbano.