
Gestão de oficinas: CPF ou CNPJ? A escolha que pode custar caro para as oficinas. Num setor em que o improviso ainda é comum, muitos donos de oficinas mecânicas seguem operando parte de seus negócios no CPF, seja na hora de comprar peças, vender serviços ou receber pagamentos via maquininha. Mas o que parece um atalho para pagar menos impostos pode, na verdade, ser uma armadilha fiscal com alto custo financeiro e risco de sanções legais.
De acordo com a contadora Simoni Ludovice, sócia da Mectax e especialista em contabilidade para o setor automotivo, essa prática é um dos erros mais recorrentes entre micro e pequenos empresários da área. “Quando um empresário movimenta o negócio no CPF, ele pode acabar pagando até 27,5% de imposto sobre rendimentos, enquanto, com o CNPJ e o enquadramento correto, a carga pode ser de 6% ou menos pois o mecânico paga dois impostos: o de prestação de serviços e o de vendas de peças. A diferença é brutal e passa despercebida por muitos”, alerta.
Além do impacto tributário direto, a falta de controle entre compras e vendas no CPF interfere na contabilidade e no estoque da empresa. Isso porque operações realizadas em nome da pessoa física não geram créditos tributários — o que pode comprometer até a apuração correta de impostos no regime do Simples Nacional.
“Agora imagina essa situação: a oficina tem uma entrada de compra no CNPJ e faz uma venda na máquina em nome do CPF. Imagina como fica o estoque? E para fazer a declaração anual do Simples Nacional, como confrontar esses dados?”, questiona Simoni.
O cruzamento de informações bancárias com dados da Receita Federal também é um risco que muitos desconhecem. Ao movimentar valores altos na maquininha de cartão vinculada ao CPF, o empresário pode cair na malha fina por inconsistência entre a renda declarada e o volume financeiro registrado.
“O uso da maquininha de cartão no CPF também é um risco constante. O volume de movimentação bancária não combina com a renda declarada da pessoa física e isso acende o alerta na Receita. Muitos acabam caindo na malha fina sem nem saber o porquê”, reforça a especialista.
Outro ponto crítico está no controle gerencial. Quando todas as receitas e despesas são misturadas à conta pessoal, o dono da oficina perde visibilidade sobre o desempenho real do seu negócio. “Quando tudo está misturado com a vida pessoal, o dono da oficina não sabe exatamente quanto está ganhando ou perdendo. A confusão afeta desde a precificação até a tomada de decisão para investimentos”, diz Simoni.
A informalidade, muitas vezes tratada como solução, pode levar inclusive à perda da inscrição estadual, inviabilizando operações básicas como a emissão de notas fiscais. Em um cenário de crescente profissionalização no setor de reparação automotiva, a gestão correta dos aspectos fiscais se torna um diferencial competitivo — e até uma exigência para parcerias com grandes distribuidores ou redes de autopeças.
Para ajudar os empresários a evitarem armadilhas fiscais, a especialista lista cinco recomendações práticas:
✔ Dicas para não perder dinheiro na oficina:
- Use sempre o CNPJ para compras e vendas: isso evita tributação em excesso e permite melhor controle financeiro.
- Formalize o negócio com um contador especializado: ele poderá orientar sobre o melhor regime tributário e como pagar menos impostos legalmente.
- Evite maquininha de cartão no CPF: toda movimentação bancária é cruzada com a Receita Federal e isso pode gerar problemas fiscais.
- Separe contas pessoais e empresariais: isso traz mais clareza financeira e ajuda na organização contábil.
- Peça notas fiscais em nome da empresa: isso permite uso de créditos tributários (dependendo do regime) e facilita deduções futuras.
Pensar no longo prazo, organizar o negócio e se cercar de suporte técnico qualificado é mais eficaz, e menos arriscado, do que tentar escapar da tributação a qualquer custo. “O que parece facilidade hoje pode virar um grande prejuízo amanhã. Formalizar e cuidar bem da gestão financeira é o que sustenta negócios fortes no setor automotivo”, conclui Simoni.

Carolina Vilanova, editora da Revista e Portal Oficina News, é jornalista (Mtb 26.048) e trabalha desde de 1996 na imprensa editorial automotiva. Em 2003 iniciou sua participação no mercado da reparação e reposição automotiva, inclusive como editora da Revista o Mecânico por 12 anos. No ano de 2014, idealizou o Portal Oficina News, que em 2016 teve sua versão impressa publicada, a Revista Oficina News, sob a chancela da Editora Ita & Caiana. Sob sua responsabilidade editorial, publica também a Revista Frete Urbano.